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Empreendedores Criativos by Mônica Herculano

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“Espaço de convergência de diversidades, de criatividade à flor da pele, de transformações contínuas, de sentimentos e manifestações os mais variados. A cidade, por muitos tratada e vivenciada como problema, é um manancial de possibilidades. Desde, claro, que quem a ocupa participe e colabore com processos de reinvenção.”

A afirmação é de Ana Carla Fonseca (Cainha) e Alejandro Castañé, da Garimpo de Soluções. Eles são os curadores do Seminário de Inovações Urbanas, que acontece nos dias 21 e 22 de julho na Pinacoteca do Estado de São Paulo, em uma realização do Cemec com apoio de comunicação da Repense.

A inspiração para o evento veio justamente da percepção sobre o interesse crescente das pessoas em discutir cidades de forma mais protagonista, bem como do número de iniciativas nesse sentido. “Foi para atiçar a transformação desse interesse em reflexões, a partir de casos práticos de quem está transformando a cidade e de questões candentes, como a dos distritos criativos, que resolvemos colocar o seminário em campo”, conta Cainha.

Serão 18 palestrantes, da sociedade civil, de empresas e do governo municipal, convidados a lançar ideias e novos olhares sobre questões cruciais para a construção de uma prática de cidade. Placemaking e (re)criação de espaços públicos, trampolins digitais de participação cidadã, novas relações entre empresas e cidades e distritos criativos serão alguns dos temas abordados.

Temos visto muitas ações que buscam a inovação na relação com as cidades, uma nova cultura, especialmente com uma participação bastante ativa da sociedade civil em ações de transformação dos espaços públicos. Para Cainha, isso toma mais corpo na última década, graças a uma confluência de fatores, dentre eles: a vinda de gerações que, nascidas no meio digital, têm mais desenvoltura em se expressar, aglutinar pensamentos e acreditar nas possibilidades de mudança; o impacto das tecnologias digitais na criação de plataformas com alguma missão cidadã, como a difusão de informações, o estímulo à expressão do cidadão etc.; a maior exposição a casos concretos de transformação urbana, dando uma nova injeção de alento e incentivo à atitude; e a percepção de que se não convertermos a indignação com atos como a apropriação privada de espaço público, o desrespeito à opinião do cidadão, o extermínio massivo de árvores e áreas verdes etc., em algo mais propositivo, nada mudará.

Participante da primeira mesa do seminário, Paola Caiuby, do Conexão Cultural, vê uma grande quantidade de coletivos olhando para as cidades e os espaços públicos, promovendo o que ela chama de “micro-transformações”. Mas alerta que é preciso cuidar para que essas ações não virem ocupações pontuais, de pequenos grupos, que convidam amigos, amigos de amigos, ocupam praças, ruas, pintam muros, fachadas, faixas de pedestres, porém numa ação que envolve pouco a comunidade. “No final, a ação não vira perene, é pontual, de curto prazo e com um engajamento muito pequeno do entorno. Um ponto importante para debatermos, na minha opinião seria esse: o quanto conseguimos realmente ser coletivos e engajar a comunidade?”

A partir da experiência com o projeto A Batata Precisa de Você, Laura Sobral entendeu que, ao mesmo tempo em que há um crescente interesse da sociedade e uma boa e rápida resposta às ações de ocupação e reinvenção dos espaços públicos, um desafio é que ainda não se sabe o horizonte dessas ações. Como essas experimentações podem significar alguma coisa para a cidade não só localmente, mas de maneira mais ampla? “Poucos movimentos se dispõem a discutir os efeitos reais dos manifestos, das ações. Falta discutir o próximo passo, como essas iniciativas podem se tornar uma maneira efetiva de mudar a maneira que a gente faz cidade. A discussão é essa: como se produz cidade hoje em dia, quais são as bases que a gente tem, as premissas, os valores, os indicativos. Essas coisas estão sendo postas em xeque. Talvez os caminhos não sejam os que estão sendo indicados até agora”, alerta.

Discutir e refletir melhor sobre as leis que existem e que acabam por gerar os modelos das cidades é o que Juliana Barsi, do projeto Bela Rua, acredita que ainda falta nesse debate. “Este é um universo muito complexo, em que apenas uma minoria da sociedade consegue entender e atuar. Precisamos tornar isso uma linguagem mais fácil e usual, e mais que isso, ser baseada no nosso desejo atual de cidade”, defende.

O próprio modelo de financiamento dos projetos e ações é uma questão também latente. “O projeto é um serviço para a cidade, é de interesse público, mas hoje em dia quem paga não é o setor público, e sim uma empresa”, conta Juliana. “Isso faz com que corramos sempre o risco de perder de vista que o cliente é a cidade, e não necessariamente quem está financiando o projeto.”

Um bom negócio – Muitas empresas veem na atuação de coletivos como o de Juliana uma oportunidade de participar de uma forma positiva deste novo cenário de transformação da cidade. Essa nova visão, segundo o Gerente de Inovação Social e Voluntariado da Fundação Telefônica Vivo, Luis Fernando Guggenberger, faz parte de um movimento no qual a empresa é provocada a pensar sobre o seu propósito na sociedade. Isso se torna parte das discussões estratégicas das organizações, num caminho inverso à ideia bastante comum de que o investimento social privado é apenas filantropia.

Guggenberger estará no seminário apresentando o estudo de tendências Visões de Futuro +15, uma publicação que levantou 180 cenários do campo social do Brasil e do mundo. “Sabemos que inovar é necessário em todos os campos e, para o terceiro setor, não é diferente, mas vimos que a análise de tendências é pouco utilizada para o planejamento das organizações não-governamentais. Pensamos que é preciso incorporar novos princípios, metodologias, ferramentas, mídias e tecnologias para ampliar o impacto social do que já é feito. A ideia é usar essas tendências para direcionar a construção do que queremos”, explica.

Mateus Silveira, da Diretoria de Planejamento e Estratégia de Produto da Fiat – Future Insights, cita uma pesquisa lançada em 2014 pelo site Catraca Livre, que indicou que 62% dos consumidores paulistanos estariam dispostos a trocar a marca habitual de seus produtos por outra que promovesse melhorias na cidade, como ações de cultura, bem-estar e lazer gratuitos. “A inovação é um processo impulsionado pelo desejo de surpreender as pessoas. Esse movimento faz a empresa adotar uma postura ativa, corajosa e bastante desafiadora, capaz de assumir certos riscos para se colocar ao lado das pessoas”, conta.

O projeto Futuro das Cidades, que será apresentado por Silveira no evento, tem como objetivo promover uma discussão a respeito da mobilidade urbana. Integra o projeto um estudo investigativo realizado em conjunto com USP Cidades, COPPEAD UFRJ e CESAR, no qual diferentes contextos urbanos foram examinados na perspectiva de colocar no centro da problemática dos deslocamentos urbanos as pessoas e sua acessibilidade às oportunidades que a cidade oferece.

“Não se trata de filantropia, mas de estratégia de negócios, com a busca de uma situação ganha-ganha”, afirma Ana Carla Fonseca. Para ela, não se pode considerar empresas – assim como governos, ONGs ou mesmos pessoas – de modo monolítico. “Certamente há as ‘mal-intencionadas’, mas também há as que legitimamente percebem que não há como ser uma ilha de prosperidade em um mar de carências”, defende. Essas empresas, diz Cainha, reconhecem que a cidade é um laboratório vivo de conceitos, tendências e oportunidades, e que participar da construção de um ecossistema urbano mais criativo, sustentável e acolhedor favorece seus negócios, a criatividade de seus funcionários e o espaço no qual operam.

Poder para o público – Para Juliana Barsi, é preciso estar atento para não deixar de lado o papel de empresas que ocupam determinada região, mas sem perder de vista a importância da construção conjunta com o poder público. Até porque outra questão importante é que, para intervir em espaços públicos, ainda há muita burocracia. “As leis não parecem facilitar para diferentes usos e atuação do espaço público. São muitos setores com quem precisamos falar e ter autorizações, muitas vezes esse setores também não conversam entre si, e novamente não conseguimos fazer tudo o que queremos e da forma como imaginamos. Diante desse contexto, temos que aceitar uma condição que muitas vezes parece ser algo baseado em um discurso ultrapassado de cidade”, alerta a integrante do Bela Rua.

Ariel Kogan, do #EuVoto, completa: “As principais dificuldades têm a ver com o próprio funcionamento do legislativo municipal e das instituições políticas que não se adaptaram à realidade do século XXI. A internet entrou em todos os campos da sociedade, cultura, economia, mídia… só não entrou no campo da política.”

Ele acredita que alguns assuntos têm tido menos foco do que outros, como: o conceito de “bem público” em cidades que têm cada vez mais bens, serviços e principalmente os espaços privatizados; a construção de cidades para bebês e para a terceira idade; e o papel das cidades na governança nacional e mundial – “Vamos precisar de visto para entrar em algumas cidades do mundo?”, questiona.

Para Rodrigo Bandeira de Luna, fundador do portal Cidade Democrática, os temas de cidades, economia colaborativa e inovação aberta trazem o desafio de pensar um novo modelo para se trabalhar. Esse modelo, segundo ele, deverá: 1) responder à necessidade de se ter foco em questões públicas e coletivas, o que é natural do setor público; 2) ter base na colaboração possível por meio da internet e aplicativos; e 3) permitir que os diversos atores envolvidos possam ser remunerados, estimulando que este setor da economia possa crescer.

“O mais difícil é trabalhar com inovação e novos modelos de governança, compartilhada e distribuída, ao mesmo tempo em que se precisa de financiamento. Tem sido necessário superar barreiras culturais e paradigmas ultrapassados, sem que tenhamos nas mãos as ferramentas necessárias para alterar os sistemas de incentivo, que permitiriam uma mudança mais rápida nesse sentido”, afirma. Isso se reflete nas dinâmicas de financiamento das atividades e na adesão de atores críticos, diz Luna, especialmente políticos e servidores públicos.

Colaboração – Por outro lado, surpreende positivamente o poder de transformação das práticas colaborativas dedicadas a temas públicos. “Temos visto mais e mais pessoas vindo para esse campo de atuação, abrindo mão de seus empregos mais seguros, novos grupos sociais de jovens se apresentando para trazer suas demandas e seus recursos e, especialmente, a qualidade das propostas e projetos que são desenvolvidos por quem está perto e conhece bem a sua realidade”, relata Luna.

Cainha defende que a única forma de lidar com as transformações urbanas das quais necessitamos é por meio de um novo arranjo de governança, envolvendo governo, setor privado e sociedade civil, com papéis e responsabilidades muito bem definidos. E elenca alguns assuntos que ainda devem ser mais discutidos: novos modelos de governança; como passar da intenção para a ação; como engendrar iniciativas que não sejam dependentes de um modelo de crowdfunding; como evitar que plataformas digitais acabem legitimando as intenções ou os interesses de alguns; como promover de fato a participação de contingentes populacionais sem acesso às mídias digitais; e a viabilidade da implementação dos Distritos Criativos, na forma como foram previstos no Plano Diretor.

Os Distritos Criativos serão assunto da última mesa do Seminário de Inovações Urbanas. Embora não haja uma definição consensual sobre o termo, a que pauta o pensamento a ser abordado no evento é a de uma área específica da cidade, caracterizada por uso misto (moradia, trabalho, lazer, estudos), prevalência de atividades vinculadas à economia criativa (sejam em artes e cultura ou em ciência e tecnologia) e valorização do espaço público e da formação de um ambiente propício ao encontro dos cidadãos. O Distrito Criativo, explica Cainha, pode surgir organicamente ou ser catalisado por políticas públicas, idealmente tomando por base as singularidades do território.

O maior obstáculo a superar é o complexo de vira-lata, a dificuldade em valorizar as experiências e as invenções locais. Essa é a opinião de Baixo Ribeiro, fundador da galeria e do instituto Choque Cultural, que participará da última mesa do seminário. Para ele, o melhor modo de superar essa situação é criar uma cultura de inovação. “Valorizar, premiar, reconhecer, investir”, pontua.

“Esses primeiros tempos do novo milênio viram nascer uma nova maneira da população lidar com as questões da cidade, mais proativa, colaborativa e em rede. Ao mesmo tempo em que estamos intervindo na vida urbana, estamos aprendendo no coletivo”, diz Ribeiro. Para ele, esse é um novo jeito de lidar com a educação. “Fora da sala de aula, na cidade, todos nós educamos e somos educados o tempo integral”, completa. Mas alerta: estamos desperdiçando uma excelente oportunidade de envolver mais as escolas nesses processos, ou seja, levar mais a escola para a cidade e trazer mais a cidade para dentro da escola.


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